O Futuro Medonho


























Entre a apreensão quanto ao sucesso do Cinema Ideal, manifestada no site À pala de Walsh, e as declarações, ao jornal Público, do CEO da GreatCinema, responsável pela exploração do @Cinema, nas novas salas do Saldanha Residence, que futuro espera o espectador perante a suposta inevitabilidade da inquietante mercantilização selvagem proposta para a distribuição de cinema em Portugal?

Não é que os argumentos sejam novos, mas o novo patrão da distribuição atreve-se a dizer descaradamente, sem papas na língua, o que o poder pensa, secretamente, quando se orienta no pensamento das industrias culturais para definir os objectivos e as estratégias para as instituições que financia.

Se é este o quadro que nos oferecem, não contem connosco. Preferíamos, mil vezes, o som da passagem do metropolitano no subsolo. Se as estratégias falharem, já sabemos que a culpa é da pirataria.

---

“Só trabalhamos com blockbusters – o nosso target é muito específico, jovem e os jovens querem é ver este tipo de filmes”... “Pelo estudo que fizemos, sabemos que 80% das pessoas que vão ao cinema no Porto e em Lisboa estão focados [no cinema-espectáculo].” E, por isso, justifica, decidiram-se por esta fórmula.

“Esta oferta existe noutras salas, obviamente que sim, é a que mais existe” “[Mas] a oferta blockbuster com tecnologia de ponta, bom serviço de cliente e baixo custo não conheço.” A programação terá "grande rotatividade" – tal como os restantes exibidores, a GreatCinema estará atenta aos números de espectadores que cada título fará nas suas salas, mas assume que vai reagir aos dados para "aumentar a percentagem de audiências".

“Pela primeira vez temos sponsors a patrocinar salas de cinema, não recintos ou eventos”, admite o responsável pelo @Cinema. “Quando trabalhamos com capitais próprios, sem financiamentos, a pronto pagamento e sem dívidas, é óbvio que qualquer sponsor tem uma importância colossal”, acrescenta.

A sala 1, sem patrocinador que lhe dê outro nome, tem capacidade para 153 pessoas, que podem comprar os bilhetes numa bilheteira convencional ou aos colaboradores da @Cinema que andarão, de tablet na mão, pelo centro comercial. Mas também, no futuro, “pelas praias ou pelas festas populares” – isto porque, apesar das cautelas de Serranito quando questionado pelo PÚBLICO sobre os planos de expansão da GreatCinema, eles existem e abrangem outras salas em Lisboa e pelo país nos próximos meses.

A apresentação do novo cinema ocorre no dia em que se soube que se acentuou a quebra na frequência dos cinemas portugueses: perdeu-se quase um milhão e meio de espectadores nos últimos onze meses. Francisco Serranito, no átrio do seu novo cinema, fala em "contraciclo" e no facto de, em crise, "as pessoas precisarem de distração".

A instalação do sistema Dolby Atmos, que faz com que um aguaceiro no interior da sala se torne numa tempestade que nos envolve por todos os lados ou que uma canção rode em torno da sala, será uma fatia significativa dessa quantia, um “capital considerável”. O Dolby Atmos, segundo David Hernandez, director comercial para o Sul da Europa da Dolby, cria “uma sensação imersiva, realista”, porque o som passa em diferentes canais nas diferentes colunas das salas, que estão também no tecto. “As tecnologias são de primeira geração e qualquer tecnologia que seja nova, no seu início, é extremamente cara”.

---
Links:

À pala de Walsh

Público


//

Sem comentários: