Panorama 2013, o documentário no Cinema Novo
























Belarmino (Fernando Lopes, 1964)



Entre 3 e 11 de Maio, decorre a sétima edição do Panorama, Mostra do Documentário Português. Trata-se de uma iniciativa da Apordoc e da Câmara Municipal de Lisboa, que conta com a programação de Fernando Carrilho, João G. Rapazote e Madalena Miranda. A singularidade do Panorama reside não apenas na apresentação da produção recente, muito para além do que é mostrado no DocLisboa, mas também no estabelecimento de percursos pela história do documentário feito em Portugal ou por portugueses. Pelo meio há espaços de debate entre programadores, produtores e público.

A abertura do Panorama 2013 deu-se com a exibição de Belarmino (1964) de Fernando Lopes, focado na vida de Belarmino Fragoso, um antigo pugilista que, depois de passado o sucesso, ganha a vida como engraxador e colorista de fotografias. Já longe do registo das comédias populares centradas na vida quotidiana da cidade de Lisboa, Belarmino é contaminado pelas novas vagas que percorriam o cinema mundial da época, abrindo o dispositivo documental a elementos próximos do cinema de ficção. A apresentação de Belarmino na óptima sala do Cinema S. Jorge foi uma boa oportunidade para rever a grandeza desta obra fundamental do cinema português. No final, como que transportado por uma máquina fabulosa, o Trio Hot Club de Portugal saiu da tela e presenteou o público com a música que criou e interpreta em Belarmino e, também, com alguns standards do jazz. A sessão de abertura do Panorama revelou-se, assim, uma bela e comovente homenagem a Fernando Lopes e um aperitivo para a secção "Documentário no Cinema Novo", que acontecerá nos primeiros dias da próxima semana na Cinemateca Portuguesa. De notar que foi no documentário que, em plena ditadura, a maior parte dos nomes que associamos ao Cinema Novo iniciou as suas actividades profissionais no cinema. Acto da Primavera (1962) de Manoel de Oliveira é o primeiro filme a ser exibido e seguir-se-ão obras de Alberto Seixas Santos, António Reis (com César Guerra Leal), Manuel Costa e Silva e Paulo Rocha, entre outros. Segundo a organização, algumas das cópias a apresentar foram recentemente restauradas. Uma nota especial para a sessão de terça-feira, que reflecte a acção da censura sobre a representação do colonialismo no cinema português, com a exibição de Angola Terra do Passado e do Futuro (António Escudeiro, 1972) e de Catembe (Faria de Almeida, 1964). Deste último serão mostradas, como extra, as cenas censuradas.

Para além do panorama sobre os documentários mais recentes, há ainda a referir: um conjunto de filmes produzidos para Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura ou para o 20º aniversário do Curtas Vila do Conde; o DocLisboa 2012 visto pelos filmes portugueses que nele participaram; o documentário e a televisão; e uma nova secção, que se pretende prolongar pelas próximas edições, dedicada à cidade de Lisboa. Na sessão de encerramento voltamos ao período do Cinema Novo com três filmes curtos que António de Macedo, António-Pedro Vasconcelos e João César Monteiro dedicaram a três personalidades da cultura portuguesa: Almada Negreiros, Fernando Lopes Graça e Sophia de Mello Breyner Andresen, respectivamente. O catálogo da mostra é outro elemento valioso, contendo notas de apresentação das secções por parte dos programadores, textos de críticos e investigadores - Francisco Rui Cádima,  José Manuel Costa, José Bértolo e Paulo Cunha - e entrevistas a Anna Glogowski (consultora de programação do DocLisboa), António de Macedo, António Escudeiro e José Fonseca e Costa. Num ano em que, tal como todas as outras instituições e eventos culturais portugueses, o Panorama sofre pesadas restrições orçamentais, é de saudar a sua vitalidade na resposta a este cenário com o alargamento para outros espaços (Teatro do Bairro) e o estabelecimento de uma nova secção que visa criar pontes visuais com a riqueza da cidade que o acolhe. // 

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