Em Busca Do Acorde Perdido






















Fonte: Scott Atormentado



Ao longo de duas décadas, comprámos ansiosamente o Expresso à procura das críticas de música de Ricardo Saló e de uma ou outra de cinema. Com as sucessivas remodelações do jornal, fomos largando o hábito. Hoje, ficámos a saber que Ricardo Saló foi dispensado do Expresso. Durante muitos anos, ofereceu descobertas e criou gostos para muitos melómanos portugueses. E agora, o que resta? Os conteúdos culturais - e podemos referir-nos também a sites e blogues - entregues a uma juventude ignorante e insuportável. Mais uma razão para não voltar a comprar o Expresso.

Na rádio, em programas memoráveis da Antena 1, XFM ou Voxx, com uma voz potente, Ricardo Saló apresentou-nos todo o acid jazz, o drum and bass, o hip-hop, o house, a soul e o techno que realmente interessavam, a Mo' Wax, a Les Disques du Crépuscule, a colecção Made to Measure da Cramned Discs, a Talkin' Loud ou a On-U Sound. Corria o mito de que as suas críticas esgotavam imediatamente o stock da Contraverso e da Bimotor, das poucas discotecas que na década de 1990 se apresentavam como alternativa à oferta das multinacionais. Lançou em Portugal um culto fervoroso por Dummy dos Portishead e por Dubnobasswithmyheadman dos Underworld. Quando Jon Hassell decretou o fim das fronteiras do quarto mundo com Dressing For Pleasure, foi dos poucos que lhe dedicaram a importância devida. Criou ondas de choque com a publicação de uma crítica pouco entusiástica ao concerto dos Mão Morta (vestidos de pijama?) no cinema Alvalade, na primeira parte dos Young Gods, muito celebrado pela juventude bem pensante que circulava entre a Contraverso e o Frágil. Em anos recentes, desafiou o público da imprensa de massas ao colocar discos do rei do techno minimal, Ricardo Villalobos, nas listas de melhores do ano. Ainda nos lembramos das palavras que dedicou ao fabuloso Fabric 36 de Villalobos: um imenso adeus ao século XX. Para Ricardo Saló, parece que chegou a hora de lhe cobrarem o atrevimento.

Todos estes factos são citados sem a consulta de qualquer fonte. Esperamos que, um livro com algumas das críticas que Ricardo Saló dividiu por várias publicações, possa reparar alguma incorrecção. Enquanto não chega, podemos ouvi-lo no programa Fuga da Arte da Antena 2, emitido aos domingos às 24h00. Também, desde Março, pode ser acompanhado no seu novo blogue, Em Busca Do Acorde Perdido, que tem a divisa 40 Anos a Desfazer Opinião. Começa com o hino Transmitting Live From Mars dos De La Soul. Boas memórias, pois foi num programa de rádio de Ricardo Saló que ouvimos este tema pela primeira vez. Um blogue para seguir atentamente, numa busca pelo passado em direcção ao futuro. //

Em Busca Do Acorde Perdido

2 comentários:

Unknown disse...

Caro amigo: obrigado por este elogio/chamada de atenção para o meu 'pobrete' blogue (há semanas que espero a prometida visita de 'mão-de-obra especializada', como quem espera pelo canalizador...). Pode ser, até que, antes disso, consiga pôr lá ume referênia/recomendação do seu blogue. Pelo menos, vou tentar. Um abraço Ricardo Saló

there's something out there disse...

Caro Ricardo, o post é apenas um agradecimento a alguém que admiramos não só pelas escolhas mas também pela frontalidade. Foi escrito a quente mas decidi, posteriormente, compô-lo. Como a memória prega partidas, espero não ter comprometido ninguém. É um enorme prazer poder acompanhá-lo na sua nova aventura. De início, a parte técnica é sempre um embaraço, mas depressa se ultrapassa. Um abraço e boa sorte.